sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

COLUNA DA SUZETE




De anjos e rosas



Véspera de Natal de 1941, minha avó, em sonho, vê uma grande explosão e acorda sobressaltada, com a certeza de que o Brasil entraria na Guerra e que havia a possibilidade de que seu único filho homem, reservista, viesse a ser convocado. Religiosa, não teve dúvidas em apelar ao Anjo do Guarda: - “Por piedade, bendito Anjo, de quem sempre fui devota, para que eu possa tranquilizar meu pobre coração, permita que amanhã alguém me entregue uma rosa como prova de que ele estará sob sua proteção e não precisará participar do conflito”.

Na manhã seguinte, ocupada com os afazeres natalinos, esquecera o sonho entre os lençóis, quando Miguel – sim, era esse o nome de meu pai – enveredou pela casa: “Mãe, a vizinha me chamou de anjo e pediu pra eu entregar esta rosa para a senhora, como presente de Natal”. Crise de choro superada, vovó prometeu a seu Anjo que manteria pelo resto da vida um grande altar em seu próprio quarto, para homenageá-lo. Quanto ao conflito, passou à História como a 2ª Guerra Mundial, na qual o heroísmo de nossos pracinhas ainda hoje é cantado.

Muitas foram as vezes em fui convocada a trocar a água do vaso, sempre florido, daquele belo altar diante do qual rendíamos graças no quarto de vovó e que ela manteve (“promessa é dívida”), até o último de seus dias. Seu “pobre coração”, como se referia à cardiopatia grave – infelizmente, um de seus legados aos descendentes - , a levou à morada dos Anjos aos sessenta e um anos de idade, no que foi seguida, na mesma idade e condições, por meu pai e minha tia Nena, que ora retorna como conselheira (alter ego) de meus escritos.

Véspera de Natal de 2012, acordo com a sensação de um bater de asas que atribuo a alguma mãe passarinha habitante do quintal da mansão vizinha ao prédio onde resido, a cuja orquestra passarinheira já tive oportunidade de dedicar um poema. Pela manhã, ao levantar, percebo que algo flutua da cama em direção aos meus chinelos. Curiosa, me inclino e deparo com uma pequena pluma branca qual a dos pássaros – e dos Anjos! -, que se acomoda aos meus pés. Encantada, faço uma reverência ante um altar imaginário.

Que o Ano da Graça de 2013 tenha o condão de reencantar nossos sonhos, nossos relacionamentos, nossas vidas e “Que os Anjos digam amém”, como acaba de dizer Silvia Fávero, pesquisadora de Angelologia e amiga com quem tenho vivido inefáveis momentos de sincronicidade.



Publ. in Gazeta do Ipiranga, 11/01/2013, Cad.D-4.



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