Crônica
De Começos e Recomeços
Suzete Carvalho
Diz a Filosofia Budista, que a
lei da impermanência, ou se preferirem, da transformação, é a única verdade que
os seres humanos realmente podem conhecer e à qual estão inexoravelmente atrelados. O tempo passa (ou nós passamos por ele), com
a rapidez de um raio. Assim, lá vamos
nós outra vez encarar um Novo Ano que, acreditamos, terá o condão de, por si
só, ser melhor, mais próspero e auspicioso do que o presente.
Esquecidos de que devemos valorizar
e dar graças às boas experiências vivenciadas, nos lançamos ao novo tempo com a
avidez de um lobo faminto. Esquecemos
que somente somos o que somos ou temos o que temos, porque alguém criou,
começou, trabalhou para que as coisas fossem como são, ainda que esse alguém
tenhamos sido nós próprios, e que não há como recomeçar sem levar conosco esse
lastro de entrega e doação que recebemos como dádiva.
Ainda que Aristóteles não nos
houvesse deixado a reflexão, sabemos, instintivamente, que o ser humano é um
“animal político”. Político e gregário,
ou seja, queiramos ou não, necessitamos e dependemos de outras pessoas, para
que possamos sobreviver com um mínimo de dignidade. E a questão política, como
lembra bem a tempo e a propósito, minha Conselheira Dª Nena, nos leva à
complexa questão do Poder.
“Poder” que sempre acreditamos
saber exercer melhor do que aqueles que o detêm, seja no âmbito familiar, ou
institucional, onde se enquadram as organizações de todas as espécies, seja no
mundo político propriamente dito, nacional ou internacional. Parafraseando o antigo ditado popular, hoje
“de político e de louco, cada um tem um pouco”, o que nos leva ao tema inicial,
já que o próximo ano será pródigo em recomeços políticos, cujo sucesso (ou
retrocesso) dependerá de todos(as) e de cada um(a) de nós, independente do
envolvimento direto que tenhamos com o poder.
Enfim, espero que as necessárias
transformações que todo recomeço comporta, nos encontrem conscientizados de
nossas próprias fraquezas e grandezas e, portanto, aptos a fazer a nossa
parte, levando como ponto de partida (do
ano que se vai) ou de entrada (de um novo tempo) as sementes plantadas e
cultivadas por nossos antecessores, que estejam dando bons frutos. Feliz Ano Novo à comunidade ypiranguista e à
sociedade como um todo, nas quais tenho a felicidade de estar incluída.
*A autora é pós-graduada em
Jusfilosofia e Mestre em Direito pela USP. Ex-Diretora Cultural do CAY é também
patrona da Biblioteca-Centro de Estudos.
Publ. in Revista do Ypiranga, set/dez/2013, pág. 27