segunda-feira, 6 de julho de 2009

Transparência

Dentre as manifestações a respeito da publicação via internet dos vencimentos dos servidores, autorizada pelo Senhor Prefeito da Capital, chamou minha atenção uma crônica publicada semana passada em um dos jornais da região onde resido, assinada por ilustre empresário – cujo currículo transcrito ao pé da matéria compete em dimensões com o espaço dispensado ao assunto -.
Também na mesma semana, outro dos nossos jornais semanários, indicava o nome completo, o local de trabalho e os vencimentos dos funcionários municipais mais ilustres do bairro, muitos dos quais envolvidos também em trabalhos voluntários destinados aos vários setores da comunidade.
Preocupada com a exposição a que se submeteram esses servidores em tempos de seqüestros relâmpagos e outras violências, tratei de consultar minha também ilustre conselheira, Dona Nena, cujas orientações aprendi a seguir, sob pena de me “dar mal”, não obstante às vezes ainda ouse questioná-la. Imediatamente, como sempre, a sábia senhora adotou como suas as minhas preocupações: -“Você tem razão minha filha, mas há outras questões em jogo”.
Arguta observadora, Dona Nena tem ainda uma grande qualidade (ou defeito) que, a meu ver, torna seus conselhos dignos de atenção: emite suas opiniões somente quando convocada a fazê-lo, porém, instada a falar, esmerilha o tema à exaustão. Qualidade, porque não é enxerida, fica “na dela”, especialmente quando as questões são de foro íntimo, já que preza a liberdade de vida e de expressão de cada um. Defeito, porque quando convidada a se pronunciar sobre questões que a fazem sentir-se indignada, como a hipocrisia social – que a seu ver é uma violência, ainda que simbólica - , dentre tantas outras, corre o risco de tornar-se cansativa.
Por esses (e outros) motivos, limito-me neste momento a elencar algumas questões “pinçadas” de seu discurso sobre o tema proposto: “servidor não paga taxas e impostos?”, “a quem aproveita essa exposição pública?”, “operários conhecem a “renda” de seus empregadores?”, “como separar o ‘denuncismo’ invejoso e vingativo da corrupção comprovada?”, “qual a diferença entre os marajás das organizações públicas e privadas?”, “qual a proporção de servidores mal pagos em relações aos ditos marajás?”, “a Administração publicou também os currículos daqueles que recebem altos salários?”.
Minha conclusão é de que essa, como todas as outras questões sociais, é muito mais complexa do que se nos apresenta à primeira vista e que, talvez, a primeira transparência pela qual devemos nos empenhar seja aquela que diz respeito à nossa própria vida em sociedade, nossa ética nos relacionamentos e no cumprimento de nossos deveres, em que pese a necessidade óbvia de moralização nos serviços públicos e privados.

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