sexta-feira, 13 de julho de 2012

COLUNA DA SUZETE


Idades da Vida

Suzete Carvalho*

Minha mãe, recém falecida, dizia que eu já nasci “lendo e escrevendo”, tamanha a paixão que sempre devotei à palavra escrita, mas foi somente após minha aposentadoria, há pouco mais de duas décadas, que comecei realmente a usufruir dessa dádiva que somente ao ser humano é concebida: a capacidade de compreender, interpretar, pensar e repensar a vida.

Estava exatamente elucubrando a esse respeito dia desses, quando me caiu às mãos interessante artigo da Revista Época deste mês, intitulado “Como a idade faz nosso cérebro florescer”, no qual são analisadas algumas das possíveis origens biológicas da sabedoria que a maturidade – a estação da colheita, segundo o Talmude - pode (e deve, a meu ver) proporcionar.

O fato é que, nossos condicionamentos culturais eivados de todo tipo de preconceito, não nos permitem perceber o quanto a linguagem é opressora e limitativa de nossas possibilidades, confinando o próprio pensamento. Assim, por exemplo, a palavra aposentar vem do antigo apousentar (sentar pouso), de onde aposento (quarto), ou seja, aposentado seria aquele que se limita a seus próprios aposentos, deixa de voar, se recolhe, pressupondo, portanto, inatividade.

Como escrevi algures, o aposentado geralmente é idoso, de idadoso, aquele que tem muita idade, visto pelo senso comum como ‘aquele que já passou da idade ativa’. Hoje esse conceito está mudando, mas como ocorre em todo processo cultural, antes que se encontre um novo equilíbrio o pêndulo tende a oscilar, e então os mais afoitos caem no extremo oposto utilizando expressões que também não correspondem à realidade, como é o caso da falaciosa expressão ‘melhor idade’.

Enfim, todas as idades têm seus privilégios, desde que haja qualidade de vida, assim como em todas as fases há percalços. O que jamais se pode perder é a capacidade de indignação diante da injustiça, a vontade de expressar aquilo que sentimos, o desejo de lutar por tudo em que acreditamos e de desfrutar daquilo que conquistamos. Para isso é essencial participar, trocar experiências e, nessa troca, renovar nossas visões de mundo e ativar nossas potencialidades físicas e intelectuais, sejamos homens ou mulheres, jovens ou idosos de todas as cores, tendências e procedências.



*A autora escreve neste espaço toda segunda sexta-feira do mês. Alguns de seus escritos em prosa e verso podem ser acessados e comentados no blog www.novaeleusis.blogspot.com

**Publ. no Jornal “Gazeta do Ipiranga”, edição de 13/07/2012, Caderno D, pág. 6







2 comentários:

Anônimo disse...

Querida, obrigada pelo texto educativo e que reivindica um olhar justo por todas as épocas da vida. Conheço guris "velhos" e homens "imaturos/meninos"... Gente que compreende a beleza da passagem e não se prende a preconceitos culturais e pessoas aprisionadas do medo de envelhecer... Mundo diverso, multifacetado... Aprendi ao ler o seu texto. Obrigada! Beijinhos. Eugênia

Suzete Carvalho disse...

"Mundo diverso, multifacetado", ambíguo, paradoxal, preconceituoso, mas é o mundo em que vivemos. Um mundo pleno de riquezas e belezas, mas também de pobrezas e fealdades a clamar por justiça e justeza no olhar, equanimidade no agir e amorosidade no conviver.
Obrigada sempre,Eugênia, por nos ajudar a aprofundar as reflexões.
Abraço carinhoso.