quarta-feira, 10 de junho de 2009

De sapos e aperitivos pegajosos

Nos últimos anos, tenho tentado aprimorar meu paladar (interior), para deixar de “engolir” os alimentos amargos que a condição humana prepara e tantas vezes nos oferece, como – e cito apenas à guisa de exemplo - aqueles intragáveis aperitivos preparados com caviar suspeito (uma ova!, como diz um amigo irreverente) servidos em bandejas de prata, sob os olhos atentos (sádicos?) de pretensiosas anfitriãs.
Em vez de engoli-los (ou disfarçadamente descartá-los no vaso de flores mais próximo), tenho procurado degluti-los pausadamente, buscando apreciar ou, ao menos, reconhecer os vários ingredientes que compõem as elaboradas entradas de jantares que se pretendem sofisticados. Isso, desde que sua composição não leve carne, pois, Graças a Deus, tenho a desculpa – já aceita socialmente – de ser vegetariana, o que me salva de outros tantos petiscos indigestos.
Enfocando a questão sob outra metáfora, eu diria que estou tentando parar de engolir aqueles “sapos” que a convivência nos impõe, prodigamente, a todos. Ao contrário, tento beijá-los (aos sapos), na esperança de que se transformem em príncipes, mas devo dizer que não é fácil, pois ao pressentirem um mero sinal de asco - o que é normal, nessas situações -, esses animaizinhos saltitam como rãs (sem preconceito) – mirando minha garganta para entalar-se.
Enfim, poder-se-ia dizer, parafraseando Pessoa, que “conviver é preciso, viver não é preciso”. Mas há que saber navegar (e aqui sobreleva a sabedoria do poeta) pelos meandros da convivência – com seus mares revoltos -, para tornar suportável a vida. Domar nosso próprio ego e tentar abstrair dos sapos e aperitivos “pegajosos” que se nos apresentam, sabores e prazeres insuspeitados, é a quintessência do conviver.
Retirar os excessos de elaboração e ir ao âmago (os porquês) do comportamento do outro e do nosso próprio, sem pré-julgamentos (o pé-atrás, com que nos posicionamos para enfrentar situações difíceis nos relacionamentos), tem o condão de “abrir o gogó e desentalar o sapo” e então poderemos desfrutar dos inefáveis sabores que a vida – esta sim, uma dadivosa anfitriã - tem a nos oferecer.

4 comentários:

silvia fávero disse...

Oi, Su. Tudo bem com vc? Estive um pouco ausente mas já estou de volta. Fantástico seu artigo. Acho que no decorrer da vida aprendemos a engolir os sapos de uma maneira mais pragmática, tomando muita água para que eles não entalem...e aprendendo até a não achá-los tão ruins. Bjs. Silvia.

Suzete Carvalho disse...

Olá, Sílvia. Senti falta de você, como sempre tão generosa em relação aos meus escritos (e a outras coisas também). Essa generosidade inata, te faz captar alguns estados d'alma e "estar de volta" no exato momento em que necessitamos. Haja sincronicidade!
Interessante seu ponto de vista. Tomar muita água como fazemos depois de ingerir um remédio, para tirar o gosto ruim. Gostei da ideia.
Mas, há dias (ou situações) cinzentas, doloridas, em que nem a água lava a alma. Nesses momentos, minha inspiração fica sombria e eu crio poemas como o que acabei de publicar, sob o nome de Poluição (e aqui entra a "sincronicidade" a que me referi acima, pois exatamente no momento em que estava postando o poema, deparei com o seu comentário).
Depois, com a alma lavada pelo desabafo, vou me acalmando e só então consigo entrar num estado, digamos assim, mais meditativo, que arremata o "trabalho".
Talvez a cromoterapia - em que você é mestre - pudesse nos ajudar nesses momentos de desalento, como preparação para a meditação.Que acha? Quando puder, faça um contra-comentário (ou uma réplica)explicando melhor essa questão aos nossos leitores.
Abraço carinhoso e obrigada.

silvia favero disse...

Bom dia, Su. A sincronicidade é um assunto muito sério. Se prestarmos atenção nela (como sei que vc presta sempre) podemos aprender muito e perceber para onde a vida nos direciona.
Quanto a cromoterapia ela é de grande valia sempre. Antes de começar uma meditação mentalize o ambiente que está envolto em cor violeta, que é a cor da trnasmutação e do espiritual. É a cor que nos liga ao cosmos.
Bjs. Silvia.

Suzete Carvalho disse...

Olá, Sílvia. Tenho alguns escritos sobre sincronicidade, a "coincidência significativa", dos estudos de Jung. Logo postarei uma matéria a respeito aqui no blog. Quanto à cromoterapia, aproveito para remeter os leitores ao meu link "Sílvia Fávero", pois sua página no site somostodosum é referência no assunto.
Obrigada por mais esta visita e volte sempre. Abração.