sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sociopatia, o mal do século?

Tenho uma prima, Alzira, artista consagrada na arte do Origami, que entre outras muitas qualidades tem o dom (aquele “faro”, do dizer popular) de garimpar livros especiais que generosamente faz chegar às nossas mãos, enriquecidos com anotações e recortes de publicações referentes ao tema, sejam de críticos especializados, sejam do próprio autor.
Dentre as obras que me chegam por esse caminho privilegiado, sempre acabo me deparando com algum texto que “cai como uma luva” para enriquecer (aquecer) a matéria sobre a qual estou trabalhando no momento. Haja sincronicidade!
É o caso de “Quinta-Coluna, uma coletânea de crônicas do psicanalista Contardo Calligaris, renomado colunista de alguns dos veículos midiáticos mais influentes no país. E foi na crônica “O Sociopata, nosso vizinho” que encontrei fundamentação técnica, já que não sou especialista na área, para aprimorar minha própria crônica – que estava decantando – a respeito do assunto e até para ousar propor a tese da sociopatia como o mal do século. E isso não se restringe ao Brasil.
Ora, se a ausência de consciência moral é o pressuposto básico da sociopatia – a despeito da complexidade de interpretações que a expressão comporta -, basta olharmos ao redor para notarmos o quanto (quase) todos nós somos inconscientes de nossa responsabilidade com relação ao sofrimento do outro, individualistas, egoístas, egocêntricos que somos em nossos comportamos cotidianos, sem sentirmos qualquer remorso.
Seja dito a bem da verdade, que a maioria mantém ainda fortes vínculos afetivos e “protetivos”, especialmente para com os próprios familiares e amigos, o que, digamos assim, nos põe a salvo de um “enquadramento” técnico-psicológico mais sério: a psicopatia estrito senso, subavaliada, a meu ver, pelas estatísticas, em 4% da população mundial. I
Mas o fato é que nossos comportamentos “sociopáticos” são bem menos ocasionais do que imaginamos, principalmente quando extrapolam o círculo fechado de “nosso” entorno afetivo, aliás, baluarte passível de progressiva extinção em decorrência do recrudescimento das falhas morais da sociedade como um todo, que levam à miséria, ao consumo de drogas e, consequentemente à violência doméstica.
Enfim, sem pretender generalizar, eu diria que o sociopata a ser enfrentado é aquele que mora em nós e não na vizinhança, consubstanciado na frase que ouvi de um amigo: “Antes ser sociopata, do que neurótico, pois já que alguém tem que sofrer, que seja o outro e não eu”. Quiçá a meditação pudesse nos auxiliar a detectar essas invasões antes que se façam usufrutuárias de nossas almas.
Quanto à inspiradora desta crônica, prima-irmã por quem nutro um sentimento que extrapola a admiração e a própria afetividade, beirando a paixão, sinto que ainda não tenha tido oportunidade (como, ademais, praticamente todos os meus parentes e amigos de infância), de postar críticas, depoimentos e sugestões no blog, pois seus comentários seriam de extrema relevância.
Meu pai, outra de minhas paixões, tinha como uma de suas frases lapidares, a de que “santo de casa não faz milagre”, mas, nesse caso, prefiro discordar dele, pois ao contrário do que possa parecer, dado o teor da crônica, sou sim otimista, acredito no amor e parafraseando Cervantes: “Não acredito em milagres, mas que existem, existem”, inclusive (ou principalmente) o dos “santos” caseiros.
Namastê.

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