Semana passada, assistindo pela internet um trecho de um dos desfiles da Fashion Week em companhia de minha neta de 6 anos – que tem pequenas experiências em propaganda e desfiles de moda mirim –, fiquei encantada com sua “madura” observação sobre a postura da super-modelo Gisele Bundschen: “Vó, você viu como ela é diferente das outras? Parece que vai voar, né?” Em seguida, vendo a modelo fazer meia-volta ao final da passarela, concluiu: “Ah, ela desfila voando e dançando!”.
Nos últimos dias, assistindo aos documentários sobre a morte de Michael Jackson - cuja tônica era a busca da perfeição estética -, lembrei dos comentários de minha neta. Ele não era simplesmente um cantor, também dançava e “voava”, entregando-se de corpo e alma ao ideal que abraçara. Infelizmente faltou-lhe equilíbrio e ele “dançou”.
Qual o elo que faria com que dois ícones tão diferentes entre si se sobressaíssem do restante de nós que acreditamos fazer o melhor possível para concretizar nossos ideais? Porque esses dons que nos foram magnanimamente distribuídos, a todos e a cada um de nós, nas mais diversas áreas da atividade humana, ficam em geral aprisionados na mediocridade do cotidiano?
Porque nosso pensar é tão pequeno e nossos medos e inseguranças tão grandes? Porque nos envolvemos em culpas e mágoas e nos deixamos afetar com tanta intensidade pelos pequenos fracassos e dilemas do dia-a-dia, a ponto de comprometer nossos relacionamentos, nossos sonhos e tantas carreiras promissoras? O que mais nos falta a nós, pobres mortais, tão racionais e, portanto, desprovidos de “asas”?
Minha conselheira Dona Nena, a quem sempre recorro nesses momentos de reflexão, não se faz de rogada e logo vem em meu socorro: - “Falta-lhes entrega, minha filha”. Mas, alerta com sabedoria, “nunca se esqueça que a paixão ou entrega total – seja a um ideal terreno ou divino - requer também um desapego total, o que não implica, veja bem, nenhum desrespeito ao outro ou às leis que regem a convivência social”.
Percebendo certa ambigüidade em seus conselhos, rebato: - “Mas como pode alguém se desapegar de sua família, por exemplo, sem desrespeitá-la?”. – “Entregar-se é ser o que se é, dedicar-se integralmente, dar-se, doar-se, render-se a algo, independente das expectativas de quem quer que seja, inclusive nossos familiares. Preenchê-las faz parte de nossos condicionamentos culturais, que nos fazem confundir respeito com submissão”.
Ainda insegura, começo a compreender o quanto a questão é complexa, como o é a própria vida, repleta de ambiguidades e paradoxos. – “E onde fica o amor nisso tudo?”, ouso ainda perguntar. – “O verdadeiro amor é um estado de espírito que não se deteriora na convivência com a paixão, podendo até estimulá-la, em sua grandeza”.
Se bem compreendi os profundos ensinamentos, entregar-se totalmente requer a coragem dos heróis (ou a “loucura” dos amantes) e não é por outra razão que projetamos naqueles que levaram os seus (nossos) sonhos às últimas conseqüências, toda a nossa paixão (e a nossa inveja). Alçar-se em livre vôo vida afora é transcender (fazer “dançar”) condicionamentos arraigados que nos amedrontam e nos limitam a pensar pequeno e cultivar heróis. Talvez, por tudo isso, se diga que cada um – ser humano, sociedade ou civilização – tem o(s) herói(s) que merece.
Nos últimos dias, assistindo aos documentários sobre a morte de Michael Jackson - cuja tônica era a busca da perfeição estética -, lembrei dos comentários de minha neta. Ele não era simplesmente um cantor, também dançava e “voava”, entregando-se de corpo e alma ao ideal que abraçara. Infelizmente faltou-lhe equilíbrio e ele “dançou”.
Qual o elo que faria com que dois ícones tão diferentes entre si se sobressaíssem do restante de nós que acreditamos fazer o melhor possível para concretizar nossos ideais? Porque esses dons que nos foram magnanimamente distribuídos, a todos e a cada um de nós, nas mais diversas áreas da atividade humana, ficam em geral aprisionados na mediocridade do cotidiano?
Porque nosso pensar é tão pequeno e nossos medos e inseguranças tão grandes? Porque nos envolvemos em culpas e mágoas e nos deixamos afetar com tanta intensidade pelos pequenos fracassos e dilemas do dia-a-dia, a ponto de comprometer nossos relacionamentos, nossos sonhos e tantas carreiras promissoras? O que mais nos falta a nós, pobres mortais, tão racionais e, portanto, desprovidos de “asas”?
Minha conselheira Dona Nena, a quem sempre recorro nesses momentos de reflexão, não se faz de rogada e logo vem em meu socorro: - “Falta-lhes entrega, minha filha”. Mas, alerta com sabedoria, “nunca se esqueça que a paixão ou entrega total – seja a um ideal terreno ou divino - requer também um desapego total, o que não implica, veja bem, nenhum desrespeito ao outro ou às leis que regem a convivência social”.
Percebendo certa ambigüidade em seus conselhos, rebato: - “Mas como pode alguém se desapegar de sua família, por exemplo, sem desrespeitá-la?”. – “Entregar-se é ser o que se é, dedicar-se integralmente, dar-se, doar-se, render-se a algo, independente das expectativas de quem quer que seja, inclusive nossos familiares. Preenchê-las faz parte de nossos condicionamentos culturais, que nos fazem confundir respeito com submissão”.
Ainda insegura, começo a compreender o quanto a questão é complexa, como o é a própria vida, repleta de ambiguidades e paradoxos. – “E onde fica o amor nisso tudo?”, ouso ainda perguntar. – “O verdadeiro amor é um estado de espírito que não se deteriora na convivência com a paixão, podendo até estimulá-la, em sua grandeza”.
Se bem compreendi os profundos ensinamentos, entregar-se totalmente requer a coragem dos heróis (ou a “loucura” dos amantes) e não é por outra razão que projetamos naqueles que levaram os seus (nossos) sonhos às últimas conseqüências, toda a nossa paixão (e a nossa inveja). Alçar-se em livre vôo vida afora é transcender (fazer “dançar”) condicionamentos arraigados que nos amedrontam e nos limitam a pensar pequeno e cultivar heróis. Talvez, por tudo isso, se diga que cada um – ser humano, sociedade ou civilização – tem o(s) herói(s) que merece.