terça-feira, 30 de dezembro de 2008

NOVO ANO...NOVOS TEMPOS

Segundo Freud, todos temos uma “compulsão repetitiva”, ou seja, estamos condenados a repetir eternamente nossas experiências, sejam boas ou dolorosas. Alguns de nós conseguem se aperceber do fato, como a atriz Liv Ullmann que, ao se dar conta de que estava repetindo os mesmos erros, a mesma lição de vida, dizia: “Lá vou eu outra vez”.
As festas de fim de ano se aproximam e, lá vamos nós outra vez...prometendo a nós mesmos que no próximo ano, tudo será diferente. No fundo, temos uma certa sensação de já haver visto esse filme, mas acreditamos (uma vez mais) que, desta vez, mudaremos o canal a tempo de nos atualizarmos.
A história mostra - e o Brasil acaba de dar provas suficientes disso - que podemos, sim, mudar. Mas, não basta detectar, prometer, acreditar. Há que agir. Sair do comodismo narcísico, do medo das transformações e agir construtivamente, pois não nascemos prontos e acabados. Somos arquitetos de nós mesmos, seres livres para construir a si próprios e ao mundo do qual somos parte integrante, queiramos ou não.
Acredito – e procuro agir nesse sentido -, que a razão está com Jean Paul Sartre, quando diz que estamos condenados a ser livres, ainda que reconheça que a liberdade é restrita, pois envolve sempre a liberdade do outro. De um outro – seja ele quem for, que, graças a Deus, impõe parâmetros ao nosso egoísmo. De um outro, seja nosso irmão, filho, amigo, pai, esposa, que precisa de nós tanto quanto, desesperadamente, precisamos deles, pois é na existência do outro que encontramos nossa própria humanidade.
Que as festas de fim de ano, desta vez, não se resumam a um consumismo repetitivamente alienado, mas que nos possam trazer, a todos, maior conscientização sobre seu verdadeiro sentido.
Natal, como um renascimento da virtude da compaixão por nossos irmãos na Terra que, ao compartilhar dores e alegrias, mitiga aquelas, aumenta estas. Ano Novo, como uma possibilidade de recomeçar, de reconstruir e de “crescer junto”, tornando mais digna e mais feliz esta incrível experiência que é viver.

* Publ. in “Revista do Ypiranga” nº 118, nov/dez/2002, pág.7.

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