terça-feira, 26 de maio de 2009

Nó górdio II

Parte I
Repensando a questão do tabagismo


No último dia 04 de maio, em comentário ao meu artigo (postado sob o marcador Convite) e intitulado Tatame, a jornalista Maristela Ajalla propôs a debate o interessante tema de se “tentar desenroscar os passos do passado, do presente e do futuro, como uma nova possibilidade de ver o mundo, de estar nele e de fazer a diferença”.
Tomando a proposta como uma provocação, já que adoro desafios filosófico-intelectuais, postei, no dia seguinte (05/05), um artigo intitulado Nó Górdio, no qual procurei demonstrar que o tabagismo, dentre tantas outras mazelas das quais gostaríamos de nos “desenroscar”, é uma questão mais complexa do que a simples díade vício/saúde com que nos é atualmente apresentada, já que se reveste de conotações, no mínimo, bio-psico-sociológicas.
O poeta Diniz Gonçalves Jr., por sua vez, enriqueceu o debate em comentário postado em 10/05, lembrando que o cigarro é também visto, em alguns ambientes, como rebeldia, insubordinação.
Pois bem, hoje, enquanto deixava decantar a inspiração sobre mais um passo a ser desenroscado, resolvi revisitar alguns blogs cujos autores, em algum momento, postaram comentários ao meu. “Coincidentemente”, o primeiro blog no qual adentrei, ostentava o instigante título de “Meditação do Cigarro 2”. Ali, as palavras de Osho, apresentadas com a simplicidade que caracteriza os verdadeiros mestres, me soaram como uma ‘chamada’ aos benefícios da meditação, de cujas práticas tenho andado – e aqui faço um mea-culpa -, um tanto afastada.
Divagações e sincronicidades à parte, retorno aos ensinamentos contidos no blog cujo nome é exatamente palavrasdeosho. “Se os zen-budistas podem meditar enquanto tomam chá, porque você não pode fazer o mesmo com o cigarro”? indaga o sábio. “O chá, aliás, contém os mesmos estimulantes que o cigarro, não há muita diferença”, complementa.
Claro está que sua intenção não é sugerir uma forma de alimentarmos o vício, mas ao contrário, sua proposta é exatamente oposta, já que toda meditação implica em conscientização. Assim, ao fumar com atenção, vagarosamente, retirando do ato o automatismo que caracteriza nossas ações alienadas, iremos tomando consciência da absoluta falta de sentido desse hábito, cujas dolorosas implicações não compensam o fugaz prazer dele advindo.
O conselho pode ser testado em muitas outras questões sobre as quais estamos precisando nos conscientizar. “A consciência é uma virtude”, diz Osho. Eu acrescentaria, parafraseando Sartre: “Estamos condenados a ser conscientes”. A consciência é uma necessidade humana, nosso destino inexorável.
Antes, porém, de alcançar esse promissor futuro, precisamos desenroscar alguns passos dados no passado e no presente, que desatar alguns nós que a eles nos prendem. Voltarei ao tema, bem como aos da meditação e da sincronicidade, mas confesso que meu trabalho depende da efetiva participação dos leitores, pois sem o diálogo que os comentários, críticas, depoimentos e sugestões proporcionam, o blog não faria sentido.

9 comentários:

Anônimo disse...

gostei do texto , elegante e bem escrito. Tem um filme excelente sobre o tabagismo chamado " fumando espero " recomendo . Infelizmente está passando em poucas salas de cinema , mas deve ser lançado em dvd .

um abraço

diniz

Anônimo disse...

Os artistas de modo geral tem a preocupação de contestar e questionar o poder , as normas sociais , os valores sólidos da classe -média etc . Por habitarem de certa forma um " não- lugar " na sociedade , o ofício artístico geralmente é mal remunerado e visto como hobbie de diletantes , muitos se tornam autodestrutivos e ao ouvirem recomendações contra o vício ignoram pq é um ameaça vinda dos "normatizadores " dos " caretas " . Na minha família muitas vezes sou visto como o " estranho " ou o " louquinho " já nos ambientes artísticos como o " careta " que não gosta de beber até cair nem fumar ou usar outras drogas . Os escritores beats que desafiaram a sociedade americana nos anos 50 defendendo todos excessos possíveis ( amor livre , entorpecentes etc ) são vistos como heróis por parte de muitos jovens autores


diniz

Suzete Carvalho disse...

Obrigada, Diniz. Seus comentários também são muito elegantes. Na primeira oportunidade vou ver o filme que, desde já, recomendo aos leitores.
Abração.

muriloha disse...

Suzete:

Muitíssimo obrigado pela citação e recomendação do blog Palavras de Osho. É sempre um presente receber indicações, principalmente de alguém que escreve tão bem quanto você.

Voltarei sempre.

Abração!

Murilo - blog Palavras de Osho

Anônimo disse...

O que me impactou na sua nova aborgagem foi a temática de corpo x consciência. É intrigante a certeza da finitude diante da nossa imaginação, tão infinita...
Se existem possibilidades de desenroscos dos passos do passado, só mesmo com novos enroscos nos passos presentes. O enroscar é um ciclo..o coro das moiras...
Maristela Ajalla

Suzete Carvalho disse...

Olá, Diniz.
Seu segundo comentário merece uma reflexão especial, pela abordagem - interessante e complexa - que você faz da questão.
Normóticos do Poder x contestadores'heróis'; ambiente familiar e artístico; influência da filosofia beat; o "ofício" artístico e o Poder Econômico; estereotipia e preconceito (maluquices x caretices); o politicamente correto e os vícios; o 'não-lugar'na sociedade; diletantismo e reconhecimento profissional são algumas das preocupações que se pode extrair de seu importante depoimento sobre questões que afetam os artistas. De alguma maneira, são assuntos interligados cuja conexão se oculta sob os egos de seus protagonistas e a hipocrisia da sociedade como um todo. Talvez possamos, com a ajuda dos leitores, ir desenroscando esses passos, um a um, como 'esperança-revolucionária' da expressão artística livre dos condicionamentos culturais.
Abraço.

Suzete Carvalho disse...

Olá, Murilo. Obrigada pela visita e pelas palavras elogiosas.
Palavrasdeosho é um blog que aponta caminhos de equilíbrio, que nos auxiliam nessa árdua tarefa de libertação das teias nas quais nos emaranhamos desde sempre.
Sempre que julgar oportuno, sinta-se à vontade para acrescentar pontos de vista de Osho sobre os temas abordados.
Abração também.

Suzete Carvalho disse...

Olá, Maristela.
Segundo a metafísica budista, o mundo nada mais é do que uma 'grande consciência' que se expressa por meio de tudo que existe, em eterno movimento e interconexão. Dito de outra forma, nada mais seríamos do que 'pequenas expressões dessa consciência maior', interconectados na Grande Rede da Vida.
A finitude do corpo é nossa única certeza, mas pode ser contraposta à infinitude da imaginação, como diz você, ou da alma como preferem alguns.
Se dermos à Grande Consciência o nome de Deus, podemos entender a expressão de nossa pequena consciência como 'o divino em nós', a 'consciência crística' de que falam as religiões.
Entre outros escritos, tenho um livro inédito abordando a consciência de forma transdiciplinar ou lato-senso, do qual já postei um pequeno trecho aqui no blog.
Vou procurar, assim que possível,postar uma matéria com alguma abordagem mais específica sobre o ponto de vista em discussão, para tentarmos desenroscar mais um pouco a empolgante e tormentosa questão da (in)finitude.
Seus comentários são desafios estimulantes. Volte sempre.
Namastê.

Sergio Sertão disse...

A respeito do cigarro a questão é NÃO SER MANIPULADO. isso é algo complexo. Fumar Malboro pra meditar significa q vc tem que passar pela manipulação da empresa pra chegar a meditação. "o chá tem os mesmos produtos do cigarro" isso é um absurdo!!