sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De Novelas e Novelos

Tenho notado que algumas pessoas que se pretendem intelectualizadas e/ou politicamente corretas, insistem em afirmar, por si ou por suas famílias, uma pretensa aversão às novelas televisivas, tidas como causa de todas as mazelas que afligem a sociedade atual, assunto que a meu ver, merece algumas considerações mais aprofundadas por suas implicações sociológicas.

Toda novela contemporânea – em especial a brasileira, internacionalmente reconhecida não apenas pelo aprimoramento técnico, como especialmente pelo talento de nossos(as) artistas e a “inspiração engajada” de nossos(as) dramaturgos(as) – se caracteriza por ser uma narrativa que busca reunir em seu núcleo de personagens fictícios, importantes questões sociais que de alguma forma nos afetam a todos, ou seja, a novela televisiva, nada mais é que um reflexo da Novela Maior que é a própria vida em sociedade.

O fato é que, queiramos ou não, o substrato da novela é trazer à reflexão dos cidadãos e cidadãs as verdadeiras chagas subjacentes à convivência social, ressaltando os preconceitos arraigados em nossa cultura, o corporativismo dos grupos dominantes, o individualismo exacerbado que torna moucos aos clamores da Natureza e dos grupos populacionais mais vulneráveis, os ouvidos dos privilegiados.

A par de trazer à luz assuntos que relegamos ao esquecimento (como um “confortável” tabu), as questões sociais apresentadas pelas novelas, refletem a realidade dolorosa da convivência humana, constatadas nos chocantes fatos para os quais contribuímos, no mínimo, por omissão - das drogas à miséria, da violência doméstica à subversão de valores em todos os setores da sociedade – haja vista o enredo “abestado” da grande novela eleitoral - e que “assistimos” diariamente nos noticiários, como a um mero filme que nos emociona ou indigna momentaneamente.

Como lembra minha conselheira Dª Nena, em vez de projetarmos nos outros toda a responsabilidade pelo desequilíbrio social, precisamos repensar com autenticidade e ética nossa própria participação nesses complexos meandros, tecendo novamente os fios das necessárias relações de interdependência que nos unem, para que não se percam as novas gerações nesse frio labirinto, como os novelos habilmente desenrolados por pacientes tecelãs, que se transformam em aconchegantes mantas de inverno.

Enfim, é bom lembrar que para a maioria da população, a novela substitui o teatro e o cinema como a mais acessível forma de entretenimento e catarse.

• Publ.no Jornal Gazeta do Ipiranga em 15/10/2010, pág. A-4.

4 comentários:

Robson Fernando de Souza disse...

Olá, Suzete. O link do meu blog (consciencia.blog.br) não tem acento circunflexo. E o Consciência Efervescente foi abandonado. Peço que corrija os links deixando só o consciencia.blog.br.

bjos

Suzete Carvalho disse...

Olá, Robson
Que bom que você passou por aqui. Providenciarei a correção e aproveito para lembrar a importância de seu trabalho a quem acessar o comentário.
Sobre o livro Mulher, Sociedade e Direitos Humanos, em que tive oportunidade de citá-lo, preciso contar que a aceitação superou nossas expectativas e, ao que parece, a primeira edição logo estará esgotada.
Um grande abraço.

Eugênia Pickina disse...

Suzete, saudade do seu blog! Hoje, arrisquei no meu... Um dia voltarei aqui e lá com mais veemência e presença, menos névoa e resistência. Adoro o que escreve. Continue! Beijos no seu lindo coração. Saudades.

Suzete Carvalho disse...

Olá, Eugênia
Volte, sim. Volte sempre, aqui e lá, pois sua presença é indispensável.
Abraço carinhoso.
Namastê.