sábado, 7 de março de 2009

Dia Internacional de Quem?

Presenteados ou emprestados por amigos, este ano me chegaram às mãos alguns livros ambientados em diferentes sociedades, épocas e contextos, nos quais sobressai a questão recorrente do autoritarismo e da discriminação, mas, principalmente a ultrajante condição da mulher no tempo e no espaço.
Ainda que, em princípio, sejam obras de ficção, seus autores – um uruguaio, um norte-americano, uma chilena e um afegão – se baseiam na experiência e na pesquisa histórica para a construção de ambientes e relacionamentos cujos personagens mais sofridos são, invariavelmente, do sexo feminino.
Latino-americanas, italianas, indianas, afegãs, essas mulheres “imaginárias” carregam solitariamente o ônus da maternidade, o estigma da violência e hipocrisia de um mundo patriarcal, reforçado pela ontológica ignorância e pelo preconceito contra os pobres, dentre os quais a maior parte se insere.
Que dizer,então, das chinesas que durante séculos foram submetidas à tormentosa atrofia dos pés (e almas) sob a desumana desculpa da harmonia estética; das “bruxas” da Idade Média, sadicamente condenadas à fogueira; das “românticas” odaliscas enclausuradas em haréns à disposição de seus ‘senhores’; das escravas do Brasil-Colônia sistematicamente violentadas e açoitadas; ou das centenas de milhares de africanas secularmente submetidas a brutais ablações, para mero deleite masculino? Seriam também produtos da imaginação dos historiadores?
Aqui e agora a situação não é tão melhor assim, em que pese o fato de algumas de nós termos granjeado algum respeito ou posição, em geral por (muito) esforço próprio. A violência doméstica, o tráfico de escravas, a prostituição forçada, a dupla jornada de trabalho, os salários sub-avaliados, a mulher-objeto que não se percebe manipulada, as eternas piadas estereotipadas, entre tantas outras formas de submissão feminina, ainda são realidades incontestes.
Somos gratas, sim, às celebrações do Dia da Mulher, mas as dispensaríamos de bom grado por um pouco mais de equanimidade nos restantes 364 dias de cada ano.


* A quem possa interessar, os livros a que me refiro são: Mulheres, crônicas de Eduardo Galeano; A Conspiração Franciscana de John Sack; A Soma dos Dias de Isabel Allende e A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini.

4 comentários:

Anônimo disse...

Gostei.Vi seu link no O2 Neurônio,e me regojizo de ver uma opinião além do "por que se não existe dia do homem?" ou "a mulher é uma rosa". Blá blá blá.Estou fazendo minha monografia sobre documentos de casamento que passa invariavelmente pelo matrimonio como contrato,e percebe-se como este "papel" da mulher interfere na construção desta {des}sociedade da qual tantos reclamam.Clichê mas todo dia é dia da mulher e estamos fazendo muito pouco para honrarmos nossas liberdades parciais.
Parabéns pelo blog!

Suzete Carvalho disse...

Olá, Juliana
Obrigada. Achei muito interessante o tema de sua monografia. Quando você deve apresentá-la? Em que Curso? Se eu me deparar com alguma informação que possa ser útil à sua pesquisa, terei prazer em repassá-la. Acredito que estejamos na mesma luta pela dignidade da condição feminina. Mantenha contato.
Abração e parabéns também.

Carol-ol-ol disse...

Olá! Com certeza, você tem toda razão! Muito bom!

E obrigada por me visitar! Fiquei muito feliz!


Bjss

Suzete Carvalho disse...

Olá, Carol

Foi um prazer visitar seu blog (pra quem não conhece é só entrar em Carolina Hanke e aparecem vários links). Foi um prazer também conhecê-la no 1º Sarau Lítero-Musical do Clube Atlético Ypiranga, em que se deu o lançamento do livro da Editora Casa do Nova Autor, em que você participa com uma poesia premiada.
Meus parabéns e um grande abraço.