segunda-feira, 6 de abril de 2009

O(s) Olho(s) da Inveja

Não vemos que não vemos

De alguma maneira, a inveja tem sido tradicionalmente associada ao olhar. Etimologicamente derivado do latim invidia, (do radical ved, olhar) o termo está relacionado com invidere, significando olhar enviesado, de soslaio, de onde provém “mau-olhado”, “olho gordo”. Daí a tradução mais corrente do verbo invideo, na expressão de Cícero: “causar infortúnio pelo mau-olhado”.
Quem olha, procura ver. E, dependendo de como olhamos, vemos o que queremos (o que nos interessa) ou o que podemos ver através de nossos filtros naturais (neuro-fisiológicos), artificiais (condicionamentos), materiais (objetos físicos) ou mesmo os ideológico-sociais que atuam coletivamente, de modo a massificar o modo de sentir e pensar de uma sociedade.
Para alguns, sentir inveja é “não querer ver”. É ignorância (da realidade), ausência de discernimento, alienação, inconsciência, enquanto para outros, chega mesmo a ser uma “deformação” da personalidade ou do caráter, como declarou Saliba, um grande admirador de Gandhi. Talvez por isso os gurus nos orientem a “Ter olhos de ver”.
Assim, ética e discernimento se impõem, inclusive ao olhar. Nilton Bonder, na sua Cabala da Inveja, dedica todo um item ao tema, sob o título Sabendo Enxergar, onde propõe que procuremos enxergar em função de nós mesmos, para só então enxergar os outros em relação a nós. Segundo o rabino, a ira dificulta nossa capacidade de ver e respirar, por isso nossos olhos se contraem e nossas narinas se expandem, como se necessitássemos do ar para poder enxergar de maneira mais clara.
Humberto Maturana e Francisco Varela propõem uma experiência visual que demonstra o fenômeno do chamado “ponto cego”, baseados no fato de que há uma zona da retina, de onde sai o nervo ótico, que não tem sensibilidade à luz. Por isso, os objetos colocados sob essa região específica não são visíveis, mas, “o fascinante”, concluem os autores, é que “não vemos que não vemos”.
E assim é. Nossas lentes de contato com a realidade (bio-psicológicas), se não forem corretamente prescritas e ajustadas, tanto nos podem cegar, quanto nos tornar estrábicos e desviar nosso foco de atenção para os pontos fracos daqueles a quem invejamos. Mahatma Gandhi nos fornece parâmetros para ajustá-las e nos orienta a prescrever, para nos vermos a nós próprios como somos, as mesmas lentes de aumento que usamos para julgar os outros.
Por outro lado, sabemos todos que, dependendo do ângulo em que nos posicionarmos, nossa visão dos mesmos objetos será diferente, donde se conclui a relatividade de nossa percepção do mundo. Para que pudéssemos ver o outro lado da montanha, teríamos que fazer uso do “olhar curvo” de que fala Evandro de Castro Sanguinetto.[1]
“Mas, o que é ver?”[2] - pergunta Marilena Chauí, enveredando por uma hermenêutica filosófico-religiosa fundada em raízes etimológicas que vão do indo-europeu ao grego e ao latim: “Ver (weid) é olhar, seja para ter ou para tomar conhecimento” (raiz indo-européia). O verbo grego eidô também exprime “esse laço entre ver e conhecer”, assim como o latim, vídeo e viso, donde visita (ver freqüentemente).
Ensina a autora ainda que, na versão latina da Bíblia, visita significa “manifestação de Deus ao homem” para exame de seus atos. Ser por Ele visitado ou ‘Estar sob a visita de Deus’ é ter-Lhe os olhos sobre nós. “Ele, que, em sua onisciência, tem o poder para dizer: provideo (ver de antemão) e por isso é providentia que nos protege contra um outro olhar, o improvisus da caprichosa Fortuna. Se aceitamos Sua visita, também há de proteger-nos do mau olhado, invideo (invejar)”.
[1] Thot (publ. Transdisciplinar da Ed. Palas Athena) n º 77, pág.4/8.
[2] “Janela da Alma, Espelho do Mundo”, in O Olhar, pág.35.

*Trecho do capítulo V da Parte I de meu livro (inédito) "O Olhar da Caprichosa", um Ensaio Transdisciplinar sobre Inveja, Preconceito e questões correlatas.

2 comentários:

CARLA FABIANE... disse...

OLÁ AMIGA...
DESCULPE A DEMORA.
CHEGUE!
... ENCONTREI MUITA LUZ E SABEDORIA EM SEUS POSTS...
UM BEIJO...
FIQUE COM DEUS!

visite meu blog brilho da vida, ficarei feliz e honrada...


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Em Busca da Felicidade
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"Pessoas podem tomar decisões que influenciam o curso de suas vidas,
mas precisam também tomar sobre si a responsabilidade por essas decisões."

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"Perseguir o prazer obcecadamente implica negligenciar a personalidade humana em sua totalidade."
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"Objetivar unicamente o prazer é deixar de lado tantos outros aspectos do que representa ser verdadeiramente humano."

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"A busca da felicidade pela felicidade resulta ser um exercício frustante. Representa contradição do ser."
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"A preocupação com nós mesmos apenas intensifica a experiência da solidão, fazendo de nós pessoas solitárias na multidão solitária."

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"Não podemos conhecer a Deus com um coração orgulhoso."
"Sem uma fé forte em Deus, permaneceremos aprisionados em alguma forma de comportamento dependente, porque Deus é a fonte de toda pessoalidade verdadeira."

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"Achar que o sentido da vida está na gratificação de nossas necessidades pessoais é infantilidade. A dependência para com a satisfação material é um sinal de imaturidade, tanto na criança como no adulto."

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Frases do livro - Em Busca da
Felicidade (Dr. James Houston)

Suzete Carvalho disse...

Olá, Carla Fabiane, Obrigada pela visita, por ter linkado o meu blog ao seu e por ter encontrado "luz e sabedoria" nos meus "posts". Sua palavras me inspiram a procurá-las cada vez mais: Luz, para enxergar as pedras no caminho e sabedoria para contorná-las e descobrir novos caminhos que nos levem a todos a encontrar...a Luz! Em outras palavras, a Luz está dentro de cada um de nós, escondida atrás de nossas sombras (as pedras do caminho interior). Encaradas, as sombras se dissipam e a sabedoria assoma. Fácil? Nããããão..., mas vale a pena persistir na busca.
Meus parabéns pelo seu trabalho, muita inspiração para você e, quando tiver um tempinho poste outro comentário aqui no meu blog incluindo aquele lindo texto "Cuidado" que você postou no seu.
Abração e fiquem com Deus também, você e os seus leitores.